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terça-feira, 18 de setembro de 2012

1988 - O Homem Mais Feliz do Mundo

Mas uma vez eu lembrava daqueles dias em que jogavam-me na casa da vovó e ficava perdido naquelas tardes amareladas de quase inexistência. Eu era um broto, de uma ignorância, de uma trepada sem amor nenhum e quando eu via meu velho lembrava disso. Aqueles olhos de reprovação me olhando de cima para baixo, pegando-me pela barriga, como eu odiava ser levantado assim... Eu ainda consigo ouvir claramente aquela voz: "Seu, porra! Um montinho de nada, hein!"

A noite eu tinha medo do dia seguinte, aquela rotina com gente velha e sendo humilhado pelo velho já estavam me matando. Com 5 anos eu queria morrer, sem saber ao certo o que significava morrer...

Mas de alguns poréns dessa vida dura, eu estava sendo abraçado pelos bracinhos brancos da minha mulher. Em cada beijo, em cada noite de amor, eu enfim estava
 sendo feliz de verdade! Eu tinha razão de viver e eu a faria sentir essa razão.

Os dias continuavam amarelados e perdidos, mas agora eu apenas era um expectador desse circo sem gargalhadas, cruel e covarde. Pouco importava, eu estava amando e sendo amado.

Um motinho em um buraco de terra, velho!