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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O gato

Meu gato sumiu
tantos dias que dói no peito
comprei vinho barato
para diminuir a falta
quanto mais afogo
tenho menos para fugir
se morreu peço a deus
Reserve um lugar para mim
Eu não demoro a chegar
É um miado puxado da garganta
O desespero da solidão dentro da garrafa
Reserve um lugar para mim
Eu não demoro a chegar
pela manhã o café que solta da garrafa querendo fraquejar
abro a janela do quarto
sirvo um bocejo ao dia da semana
para ressaca eu oro
para os analgésicos eu nego
Se eu morresse agora peço a deus
reserve um lugar para mim
Eu não demoro a chegar

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pólos negativos

Quando furo seu útero 
com o obelisco
quase tarde
e chove
Nós
nas escadas de pedro
O que são as horas quando o tempo muda?
Te entrego os amarelos 
em minha boca me dá
a despedida da razão
em coxas que duelam com a montanha

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Rígidos pés


Recuso uma foda
um abraço de quem já partiu
se a salgada te insiste na face
não sou quem se afoga no rosto branco
rochoso meu interior
com cinza nos bicos dos pássaros na praça
não tente me acordar
De olhos mais abertos
do que abortados
súplica
da covarde que grita
que tenta abraçar o abismo
que nunca mais cairá