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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Algoz de si

Passo ligeiro
nem concreto toma gosto do meu corpo
Faz frio no inferno
sequer Cristo ora
deposito minha esperança partida
no suor que não enxugo
conto horas como cada prego que ponho no meu caixão
O ano terminando e não virei herói
não estampei os jornais com sangue
nem em lençóis fui amor eterno
Eu já dei flores
agora dou caixão
desculpa mãe
oração agora não me basta
tô tentando não morrer pelo caminho
tô tentando vomitar minha luz
mas quem sou eu pra achar que é caminho?

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Rainha do Mar

Declamando Rimbaud
sob meu peito
numa semana em que se perde
levanto e faço café sem açúcar
por quê de doce só o cheiro da noite anterior
ainda ouvindo Rimbaud  menosprezo os pássaros lá fora
e toda essa vida gasta
triturada na engrenagem
há essa sereia sem mar diante de mim
Por quê quem tem essa força de atravessar a minha montanha
já ganhou os 7 mares
mas na dúvida ainda fico
se sonhei antes com a boca doce
ou se era meu sangue jorrado pela boca

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Óculos ao Sol

Brindo a grama que a conforta
em uma tarde que é de sol
queimo o que de você cultivo
se até os anjos caem 
Por quê eu não?
Quando do meu suor você fez mar
e outros olhos te pegaram para si
o que restou se fez cinzas
o que restou se fez você

sábado, 6 de outubro de 2018

Alheia

Eu era sintético
no que era teu cerne
esculpida de aquário
no desgaste da vida
chafurdei teu ócio
entre coxa
teu crucifixo
queria ser ar
exaltando o último desejo
pneus vencido
atropelando o que me é glória
sentir teu pesar
como sentir a primeira menarca
figurar no último mês
o obituário no jornal da cidade
adeus menina
lembre-se de cantar
refrões torpes
esfriando as pernas na sacada
sob tua própria tempestade
alheia

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Do ventre cinza

Na fenda escura
me cobri de pétalas brancas
Forjei na boca
o meu patíbulo
fiz dos meus algozes
provetas
refleti o velho
rouco pari um ditado

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Meio da tarde

Há um pássaro de mal humor
que ali da janela me olha
sem canto
apenas observando a fumaça do cigarro subir
me olha como se percebesse a falta de algo
se destaca no cinza do dia
sendo chumbo derretido
ele quer dizer algo
não há nada mais a se dizer nesse tempo
Recordo os pedaços que caíram
contra a minha vontade
Quando me levantei
o pássaro de mal humor partiu
Café quente pela goela
e mais algumas horas

domingo, 20 de dezembro de 2015

Vésperas

Apunhalado deus é por mim
com a mão enferrujada
brindando a esperança quando tudo
é desespero

deleites nas manhãs 
sob as palavras do livro velho

É meu cinza que sobretudo alcança notoriedade mais
do que a puta virgem

Dei-me o mar para afogar as benfeitorias expostas

Dei-me mais a montanha com a corda em riste pronto para pular e poder ver o paraíso

oração é o primeiro gole
pecado é olhar a chance de acertar

Ponha-me em manjedouras de cada sarjeta

Rogue

Acabemos

Prego eterno